Cinco sexos


por Roberta Gregoli

Como já começamos a discutir no meu post anterior e no da Júlia, a teoria feminista é interessante e libertadora. Hoje queria apresentar brevemente a teoria de uma acadêmica chamada Anne Fausto-Sterling, professora da Brown University nos EUA. Fausto-Sterling escreveu em 1993 um artigo intitulado "Os Cinco Sexos", causando muito frisson ao afirmar que em vez de dois (mulher e homem) existem, na verdade, pelo menos cinco sexos

Edinanci Silva
No artigo, Fausto-Sterling usa a palavra intersexo como termo genérico para se referir a indivíduos que misturam características femininas e masculinas, e afirma que essas pessoas podem constituir até 4% de todos os nascimentos naturais. Na atualização de 2000, "Os Cinco Sexos, Revisitado", ela admite que o número deve ser menor, em torno de 1,7%. Ainda assim, considerando que o mundo tem em torno de 7 bilhões de pessoas, isso representa mais ou menos 119 milhões de pessoas que divergem do que ela chama de dimorfismo ideal, seja devido aos hormônios, genes ou anatomia. No Brasil, tivemos um caso famoso na judoca Edinanci Silva. 

Esses indivíduos quase sempre passam pela chamada cirurgia de designação sexual e é aí que as coisas ficam ainda mais interessantes. Cabe @ médic@ definir o sexo do bebê. Ou seja, na discussão cultura x natureza, ponto para a cultura. Mesmo o sexo, que normalmente serve como base para o que é biológico ou natural (dizem que sexo é biológico e gênero é cultural), está aberto a apropriações da cultura. Volto então ao meu argumento anterior de que tudo é cultura, nada é natureza


A outra consequência óbvia do artigo de Fausto-Sterling é nos obrigar a questionar as categorias de sexo. Dividimos tudo em dois: pesquisas apontam como o corpo masculino e feminino operam diferentemente. E se, em vez de dois, dividíssemos os estudos em cinco? E se largássemos mão de dividir? Com certeza acharíamos padrões antes impensados. Afinal, como eu já coloquei antes, muit@s defendem que há mais diferenças entre pessoas do mesmo sexo do que entre um sexo e outro

Desconstruir gênero é papel do feminismo porque liberta. Transexuais e intersexos são extremamente relevantes para esta discussão porque ajudam a desconstruir a ideia de sexo como algo natural, biológico, "normal". E o normal aprisiona ou exclui indivíduos que não estão em conformidade.

É claro que esse tipo de desconstrução não deve desqualificar a luta por direitos iguais, que se baseia obviamente na diferença entre os sexos. Negar as diferenças entre homens e mulheres não é produtivo quando se demanda salários iguais, por exemplo. Mas acho que uma coisa não exclui a outra e é possível desconstruir o binarismo de gênero - e de sexo - sem negar a luta das mulheres.


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