Rindo com mulheres

por Roberta Gregoli

"Ameaçador à dominação masculina não são as mulheres rindo dos homens; 
a real ameaça são mulheres rindo com mulheres"
- Nancy Reincke*

Solidariedade feminina em Hollywood
Já escrevi sobre a competição feminina e esse é um assunto que me interessa muito, inclusive num nível pessoal, e, correndo o risco de soar piegas, confesso que as pessoas mais fantásticas, inspiradoras, inteligentes, competentes e carinhosas que conheço são mulheres. Tenho muitos amigos homens também e eles são maravilhosos, mas com certeza devo muito às mulheres da minha vida.

Por isso estranho quando vejo mulheres sendo competitivas comigo ou umas com as outras. Estranho, mas compreendo. A competição feminina não é um mito, porque é empiricamente observada, mas uma construção essencial ao funcionamento do patriarcado. É simples: sem solidariedade não há coletividade, sem coletividade não há mudança. Enquanto as mulheres ficam competindo e brigando umas com as outras, a desigualdade entre mulheres e homens persiste sem grande resistência.

Pink Gang: iradas!
Este excelente texto clama por menos misoginia e mais amor e sororidade, leiam que vale muito a pena. É esse o meu apelo também, e aproveito para sintetizar algumas ideias no sentido de minar o paradigma tradicional, substituindo os sintomas das dinâmicas machistas por atitudes saudáveis e de apoio mútuo. Assim, precisamos de:

inspiração em vez de inveja
solidariedade em vez de rivalidade
empatia e compreensão em vez de culpabilização
colaboração em vez de competição
mais elogios e menos críticas
respeito em vez de imposição

e risada, muita risada, sempre



Ampliem esta lista nos comentários. Precisamos de mais tudo de bom!

* Reincke, Nancy. "Antidote to Dominance: Women's Laughter As Counteraction." The Journal of Popular Culture 24.4 (1991): 27-37, p. 36. Texto completo em inglês aqui.

6 comentários:

  1. Engraçado, eu já ouvi isso de uma amiga, sobre a competição feminina. Mas foi justamente quando eu estava refletindo com ela sobre a competição masculina. A competição masculina me parecia um índice importante de manutenção do machismo, os homens precisam provar força, provar que se encaixam no estereótipo, estão sempre se atacando mutuamente (violentamente, fisicamente), isso quando não juntam-se contra os mais fracos seguindo um mais forte... Identifiquei que criar um ambiente de intimidade carinhosa e espaço para falar de seus sentimentos e dificuldades (coisa que um ambiente competitivo não permite, quem tem dificuldade é o perdedor) era uma ferramenta contra o machismo entre os próprios homens. Mulheres, como você e minha amiga, identificam o mesmo, todavia entre as mulheres... Parece que nossos pontos de vista diversos (entre mulheres e homens) geram percepções diferentes sobre a realidade, mal-entendidos, equívocos sobre nossas diferenças. Acho que temos ainda muito a aprender, mulheres e homens, uns com e sobre @s outr@s. Talvez tenhamos dificuldades mais semelhantes do que pensamos que temos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A competição masculina certamente existe. Mas em paralelo à competição para ver quem é o macho-alfa (o que também é um mecanismo machista que, nós, feministas, não endossamos, como a Carla H. colocou), existe uma forte cultura de socialização masculina, também chamada de homossocial. Isso é observado nos diversos clubes do bolinha que incrivelmente ainda existem, mesmo que de maneira mais ou menos secreta (aqui em Oxford há o Bullingdon Club, do qual o Primeiro Ministro David Cameron fez parte) e nas possibilidades diárias de socialização masculina, das quais as mulheres são excluídas. E aqui estou falando de jogos de futebol com os amigos do trabalho e não nos esqueçamos que muitas empresas ainda promovem saídas a clubes de striptease... Enfim, as oportunidades de socialização e consequente união entre os homens são muito mais amplas do que para as mulheres.

      Excluir
  2. punkcanibal, o que você disse é equivocado. O feminismo reconhece e luta contra esses estereótipos de que homens têm que ser machões sem sentimentos, também. Isso é prejudicial tanto para eles como para nós.

    ResponderExcluir
  3. bacana a foto que abre seu post, Roberta. Da onde é?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É do filme Stage Door (Gregory La Cava, 1937) com a extraordinária Katharine Hepburn. Adicionei a legenda na foto com o link para o artigo. Beijos!

      Excluir
  4. Ei Roberta! Fiquei muito feliz do meu texto ter sido indicado, gosto muito do Suvertidas. Parabéns pelo bom trabalho por aqui. beijo

    ResponderExcluir